quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Caminhada Anarcoecológica: "Um manifesto contra todo lixo"

[Confira entrevista com a eco-libertária Juliana Vargas do Amaral, de Osasco (SP), sobre a "Caminhada Anarcoecológica".]

Agência de Notícias Anarquistas > Que história é essa de "Caminhada Anarcoecológica"? Como surgiu essa idéia? Quem participa?

Juliana Vargas do Amaral < A caminhada é um manifesto contra todo lixo que os candidatos produzem em suas campanhas, alguns, inclusive, que fazem promessas pela saúde e contra a poluição. A idéia surgiu há dois anos, nas últimas eleições presidenciais. Eu morava numa cidade onde a lei pelos mananciais é bem rígida, mas o que via era lixo em toda parte, inclusive em áreas protegidas. Na época, não pude tocar o projeto para frente, mas mantive a idéia para essas eleições. As pessoas que participam são totalmente voluntárias, amigos que concordam comigo. Nós saímos pelas ruas pegando santinhos dos políticos e colocando em sacos de lixo, que serão entregues na prefeitura no dia das eleições.

ANA > Mas acontecerá alguma coisa especial na entrega do "lixo eleitoral" na prefeitura, algo como uma performance? Manifestação?

Juliana < Tenho algumas idéias, mas vou esperar os outros falarem também. Como a Caminhada pode acontecer em diversos pontos, a entrega não será em apenas uma prefeitura. Em cada lugar, as pessoas se responsabilizarão pela entrega, e preciso conversar com as pessoas que entregarão em Osasco antes de definir o que faremos.

ANA > E vocês já organizaram alguma Caminhada?

Juliana < Sim, a primeira aconteceu dia 30 de agosto, em Osasco, onde moro. Saímos da estação de trem, passamos por ruas movimentadas, onde a distribuição de santinhos é grande e por ruas onde os comícios são comuns.

ANA > E vocês abordam os transeuntes com algum folheto, mensagem?

Juliana < Quando vemos que alguém está com um santinho, tentado a jogá-lo, nós pedimos para colocá-lo dentro do saco de lixo e explicamos o que estamos fazendo. É nossa mensagem, porque distribuir panfletos seria totalmente contraditório. Para as pessoas, nosso ato "não faz diferença alguma" ou "existe gari para isso". Nem todos percebem o que queremos passar.

ANA > A Caminhada Anarcoecológica, além do viés ecológico, também tem uma conotação "anti-eleições"?

Juliana < Tem sim! A principal conotação é "anti-eleições". O voto obrigatório é ridículo, é a forma de eles nos obrigarem a "exercer nossa cidadania". As pessoas estão cansadas de perder seus domingos com o direito (?) de ser afundar mais. Como diz minha mãe, a política só vai se tornar boa quando os políticos não receberem nada pelos cargos, como num trabalho voluntário.

ANA > E nessa primeira Caminhada, não rolou nenhum tipo de entrevero com os comissionados "distribuidores de panfletos" dos partidos? Dias atrás um grupo de estudantes apanhou e foi expulso pela tropa de segurança do PT, numa universidade de São Bernardo do Campo, quando protestavam contra o barulho, o "lixo sonoro", de um comício do PT dentro de um auditório da universidade.

Juliana < Não rolou nenhum problema dessa vez. Não são os comícios ou os santinhos que vão dar votos a esse ou aquele político, o que se vê são as pessoas reclamando de tanto barulho e bagunça. Só os partidos não percebem isso, porém são poucos os que têm coragem de protestar, por isso são tão reprimidos. Só teremos problema se nosso "direito de cidadão" de ir e vir e nosso "dever" de manter a cidade limpa for algo proibido durante o período eleitoral. Afinal, temos horário certo para colocar nosso lixo fora de casa para ser recolhido, caso contrário somos multados. Por que os candidatos não são multados também?

ANA > E há um calendário de outras ações?

Juliana < A próxima acontecerá dia 13 de setembro. Queremos fazer uma caminhada a cada 15 dias, até o dia das eleições. É claro que, se mais pessoas se interessarem, podem fazer suas próprias caminhadas.

ANA > Quer deixar um recado para finalizar?

Juliana < Só quero dizer que as pessoas têm a opção de continuar como estão, reclamando e votando, sabendo que, não importa o partido ou a promessa, nada será feito e nada mudará por parte dos governantes. Os verdadeiros governantes somos nós, mas não sabemos o ser porque o único "direito" poder que usamos é o de escolher quem vai nos controlar pela vida toda, com a ilusão de que será por apenas 4 anos.

A outra opção é nos unirmos e agirmos; pararmos de simplesmente reclamar. Não é a Caminhada que vai mudar o mundo, e sim, os atos de todos os dias, os boicotes, os manifestos... Reclamar é fácil e é o que todos fazem. Nossa idéia é simples, mas é assim, de pouco em pouco, que conseguiremos mudar. Sei o quanto as pessoas são acomodadas e preferem não agir, pois só acreditam nas próprias derrotas. Cada passo nosso durante a caminhada é uma derrota a menos.

agência de notícias anarquistas-ana

Vôo dos pássaros!
fio costurando ligeiro
o céu ao mar.


Tânia Diniz

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